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O mercado – e a vida – se movem em ciclos.

Talvez este tenha sido um dos aprendizados mais difíceis que tive para incorporar.

A vida se move em ciclos. O mercado se move em ciclos. O tempo se move em ciclos.

E esses ciclos são evolutivos, como nas etapas do nosso amadurecimento, ou repetitivos, como nas estações climáticas. Também são repetitivos em ciclos de recessão e expansão, de escassez e abundância.

Estamos vivenciando um movimento nas empresas de tecnologia que aconteceu dois anos antes, com a economia real, que colapsou no mundo todo com o lockdown, obrigando empreendedores a reinventarem suas empresas, suas relações com clientes e fornecedores, e seu modelo de negócio.

Pode ser que as empresas de tecnologia tenham acelerado demais durante a pandemia, errado na análise da velocidade do retorno, não levado em conta a desaceleração do mercado mundial, ou estes e mais outro fatores juntos.

Desde a segunda metade do ano passado vivenciamos um cenário de demissões nas grandes empresas de tecnologia. Desde as globais, como Salesforce, Google, Face, Twitter, SAP, até as brasileiras, como Quinto Andar e PagSeguro.

E como tudo se move em ciclos, esta crise nas empresas de tecnologia não é novidade. Na segunda metade da década de 1990, presenciamos um crescimento absurdo no valor das empresas cotadas na NASDAQ, de maneira acelerada e, agora entendemos, artificial. Assim, a partir de 10 de março de 2000 aconteceu o estouro da bolha das “PontoCom”, e ao longo de todo o ano, as empresas de tecnologia apresentaram uma desvalorização em massa, já que seus planos de negócios estavam inflados, prometendo resultados que jamais vieram ou viriam.

Voltando ao presente, o ano de 2023 já começou com a IBM e Amazon ajustando seus quadros em função do resultado ruim do ano anterior.

Também estamos presenciando rodadas de baixa, as Down Roads, quando se aporta capital exigindo uma participação maior do negócio como contrapartida, desvalorizando assim, o negócio.

Mas notem que o valor de uma empresa é, em muito, ligado à sua imagem, ao seu potencial de entrega e não necessariamente seu valor tangível, imobilizado, financeiro. Assim como no mercado de capitais, apostamos no crescimento do valor percebido de uma empresa, para que com seu crescimento ela valorize mais do que fatura, mostrando potencial e melhorando a remuneração de quem apostou nela.

E isso vale para empresas de tecnologia, varejo tradicional e até grandes grupos. Olha as Americanas aí, bagunçando o mercado físico e digital.

Voltando às empresas da economia real, mais precisamente as PMEs sinto que apesar das grandes cicatrizes, as que sobreviveram aprenderam a jogar o jogo.

Os números não são exatos, mas estima-se que mais de 1,4 milhão de empresas fecharam as suas portas em 2021, por diversos motivos, como falta de recursos financeiros, falta de gestão, dificuldade de transição do modelo comercial, problemas operacionais, entre outros. Claro que a falta de dinheiro pode criar um efeito dominó com outros motivos, sendo tanto causa como consequência.

Curiosamente, ou perseverantemente, no mesmo período 1,2 milhão de novos negócios foram abertos. Também tentando entender, pode ser em virtude de demissões em empresas de maior porte, com funcionários buscando renda enquanto não encontram recolocação; funcionários de pequenas empresas que fecharam, buscando ocupar o espaço deixado; empreendedores entendendo o momento como oportunidade para resolverem novos problemas, surgidos com a pandemia.

Entramos no Brasil em um novo ciclo político, nos estados e no governo federal, que definirão parte do cenário onde atuaremos com nossos negócios. A outra parte vem de fora, com influência da economia global, que parece estar mal humorada neste ciclo.

Melhor ter planos A, B e C para seguir em frente. Jamais ficar parado. Afinal, ciclo é sinônimo de movimento e não fazer nada é uma escolha. Ruim.

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Diversas visões de um mesmo fato – mais a minha.

Você que me conhece já sabe da minha paixão por livros, pelo conhecimento, pela cultura. A curiosidade é uma grande companheira que me leva a diversos pontos de vista sobre o mesmo tema. Isso me lembra um filme que usa o mesmo conceito: Ponto de vista (Vantage point), com Forest Whitaker, Dennis Quaid e Sigourney Weaver. Fica a dica e o trailer.

Mas vamos aos fatos. Escolhi trazer o mercado de livrarias no Brasil pois ilustra, além do cenário econômico, o esforço para uma transformação cultura, de leitura e de consumo, oferecendo novas experiências aos consumidores leitores.

Mas esta história é mais antiga. Vamos lá!

Lá em 2016…

… comentei na minha coluna da BandNews FM sobre uma livraria em Paris, a Librairie des Puf, da editora Presses Universitaires de France, que havia substituído seu estoque físico de livros por uma impressora super rápida que imprime os exemplares na hora, sob demanda. enquanto você toma um cafezinho. Rápido assim. Inclusive este é o nome da máquina, Espresso Book Machine.

O mercado já não estava para amadores naquela época e fizeram uma redução de diversos andares ocupados pela livraria para uma única loja de 80m2.

Já em 2019…

… trouxe o assunto novamente, mas sob uma outra ótica e para o mercado brasileiro. Com o processo de recuperação judicial das duas maiores redes de livrarias do país, a Cultura e a Saraiva, que na época respondiam por 40% das vendas de livros no país, e com a retração de consumo, diminuindo o número de livrarias no país de 3.095 em 2014 para 2.500 em 2019. O cenário trouxe oportunidades para quem pensa diferente e aceita correr certo risco.

Três empreendedores paulistanos lançaram naquele ano a Livraria Simples, que tinha como foco o serviço de localização e venda de livros esgotados e raros. Também trouxe oportunidade para quem já estava no mercado, como a Free Book, especializado em livros importados, inicialmente censurados pela ditadura em 1976, quando foi fundada, e posteriormente oferecendo livros de design, fotografia, moda e arquitetura.

Mas o que está por trás de tudo é um conceito antigo e irrefutável, presente na fala de um dos sócios, Manuel Teixeira Neto, em matéria da Folha:

“Essa é a essência da livraria. O livreiro vende cultura, saber, conhecimento, sonhos.”

O mercado até inverteu a ordem do modelo de negócio vigente. Antes a livraria abria uma cafeteria dentro de suas instalações. Hoje, cafeterias e bares abrem livrarias nos seus espaços. Um exemplo é a Pulsa, livraria aberta dentro do Bar Das, em São Paulo. A ideia por trás do movimento é oferecer temas de livros convergentes com o perfil dos frequentadores do estabelecimento. É o mesmo movimento feito pela cafeteria Por Um Punhado de Dólares, que abriga agora uma livraria e loja de discos de vinil.

Mais próximo da pandemia, em 2020…

… a criatividade abria portas, bolsos e carteiras. O empresário e livreiro José Luiz Tahan, dono há 20 anos da Realejo Livros, livraria e editora em Santos, viu a interação dos clientes durante a pandemia crescer nas redes sociais, pedindo orientações e dicas de livros, uma vez que todas as lojas estavam fechadas. Pimba: criou o Livreiro em Domicílio, um serviço de curadoria e venda de livros. E no retorno, com a reabertura das lojas o serviço não só continuou, como criou um Clube de Assinatura, onde por R$70,00, o participante recebe todo mês um livro, uma gravura, uma quarta capa especial e uma playlist – olha só! – para embalar a leitura.

Assinatura também foi um caminho trilhado pela Livraria Cultura, com um valor menor, R$14,90 mensais e muita criatividade. O cliente escolhe e leve qualquer livro, um por mês, sem pagar mais nada além da mensalidade. Se devolver a obra em 30 dias, pode seguir pegando outra. Caso não retorne o livro, o membro paga pelo item com 20% de desconto. Mas a gigante dos livros ainda patina em sua recuperação judicial, mesmo depois de fechar 14 das 17 lojas existentes e desligar 90% dos seus colaboradores.

O cenário é bem diferente para a Amazon que sempre foi virtual e aproveitou a pandemia para ocupar espaços. A loja, que começou como livraria e hoje vende de tudo no mundo todo, ainda tem seu próprio gadget de leitura, o Kindle, o que incentiva mais ainda a aquisição de livros, também no formato digital. O risco aqui é um monopólio que pode desestruturar a relação com as editoras. Precisamos ficar atentos.

E na semana passada,

… para encerrar nosso papo em alta, saiu a ótima notícia sobre a Livraria Saraiva, que reverteu prejuízo e conseguiu pela primeira vez, desde que entrou em recuperação judicial, registrar lucro no trimestre. Foram R$29 milhões no segundo trimestre deste ano. E prometem melhorar o resultado das vendas online, que ainda estão em queda, lançando seu novo site em setembro. Estou na torcida!

Muitas visões de um mesmo cenário, não? Cada empresa se encontrava numa determinada situação financeira e operacional, mas estas são apenas algumas das variáveis de gestão. O resultado vem da atitude, de como você reage e não simplesmente do que lhe é apresentado pelo mercado.

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Nesta edição do Radar, falei sobre: #economia #varejo #consumo #tecnologia #gestao #inovacao #falasaade

No Radar do Saade é uma newsletter de periodicidade incerta, onde compartilho fundamentos, dicas, cicatrizes, sacadas e gafes de empreendedores, com a aspiração de ser a dose recorrente de inspiração e aprendizado, para quem deseja começar algo novo, dar mais um passo no trabalho, nos negócios, ou na vida. Afinal, “sempre existe alguém começando algo novo.”

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O Duro e Contínuo Impacto da Guerra na Vida e nos Negócios

Durante muito tempo as guerras também foram usadas como alavancas econômicas.

Historicamente durante as guerras, a economia internacional é afetada, o intercâmbio entre as nações diminui drasticamente e o desenvolvimento de inovação é acelerado. Isso é seguido de uma colaboração entre países aliados e posterior comercialização das invenções.

Da mesma forma que a história das guerras e sempre contada pelos vencedores, esses mesmos vencedores reconstroem as cidades que ajudaram a destruir nos países adversários, aquecendo a economia e retomando o intercâmbio internacional. Explicação simples, mas objetiva.

Isso tudo para lembrar que, apesar de ocupar menos tempo nos noticiários, a guerra segue em frente, com impacto nas pessoas, nas empresas e nos países.

EM MOVIMENTO ENERGIA

A necessidade e a dependência da Europa do petróleo são históricas, gerando esforços para manutenção do fornecimento e estruturando uma rede que permita sua ampliação. Uma das iniciativas é o Nord Stream 2, gasoduto que liga a Rússia a Alemanha e que ainda não entrou em operação, apesar de pronto desde 2021. Entraves políticos e regulatórios atrasaram o início da operação, que agora parece ainda mais distante, que também abastecerá a Áustria, Itália e países da Europa Oriental e Central.

Também a decisão do governo britânico de impor um embargo ao petróleo russo fez o preço do diesel disparar em Londres. A matéria do Valor Econômico detalha a importância da Rússia no fornecimento dos combustíveis que movem a Inglaterra, sendo consumido três vezes mais que a gasolina.

EM MOVIMENTO ALIMENTOS

Na contramão da tendência gerada pela guerra, o mercado de grãos sofrem queda em Chicago com as notícias da negociação da Ucrânia com a Rússia para liberar o transporte dos grãos retidos nos portos do país. É um movimento que alivia a pressão que gerou a alta dessas mesmas comodities nos meses que seguiram ao início da guerra. Nada ainda definitivo, mas um ótimo estímulo ao mercado especulativo.

Na parte de baixo do globo terrestre, outra commodity mostra seu poder, quando atrelado a uma marca. A fabricante suíça Barry Callebaout inaugura seu terceiro centro de exportação de cacau, desta vez no Equador, terceiro maior produtor mundial da fruta, com 375 mil toneladas anuais.

EM MOVIMENTO MARCAS

Seguindo ao movimento de abandonar suas operações na Rússia, ….

Após 30 anos, 800 lojas e 62 mil colaboradores, o Mc Donald’s também sairá da Rússia em resposta a invasão na Ucrânia. Em março havia fechado temporariamente todas as lojas, mas diferente da Netflix, que suspendeu os acessos, a rede norte-americana vai vender a operação a um investidor local e manter a posse da marca.

A francesa Renault protagonizou a primeira movimentação emblemática na infraestrutura russa, vendendo o total da sua participação na AvtoVAZ para o NAMI, estatal de pesquisa, além de ceder à cidade de Moscou as instalações operação da Renault Rússia.

E pra fechar com chave de ouro, o Google pedirá falência na Rússia! Isso mesmo.

Após ter seus bens bloqueados pelo governo russo, o que impede a sua operação local, a gigante de tecnologia formalizou sua intenção junto às autoridades locais.

Se isso afeta gigantes globais, imagine o duro reflexo disso na vida dos ucranianos e russos?

Aguardem cenas dos próximos capítulos.